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Baralho Educativo para Orientação sobre Fluxos Assistenciais no SUS

Por Alexandre Borges Filho, Renan Leão
Publicado:  at  02:30 PM

A utilização inadequada dos níveis de atenção no Sistema Único de Saúde representa um desafio constante para gestores e profissionais da área. Este artigo apresenta o desenvolvimento de uma ferramenta educativa gamificada que tem demonstrado resultados promissores na orientação de usuários sobre os fluxos assistenciais adequados.

Cartas do baralho educativo mostrando diferentes situações clínicas e níveis de atenção

Exemplo das cartas desenvolvidas para orientação sobre fluxos no SUS

Acesso Rápido

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Sumário

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Contextualização do Problema

O Sistema Único de Saúde (SUS) estrutura seus serviços em três níveis hierarquizados: Atenção Primária, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e hospitais gerais 1. Contudo, a população frequentemente busca serviços inadequados para suas necessidades - procurando urgências e emergências para condições simples ou unidades básicas para casos complexos. Essa utilização incorreta compromete a qualidade assistencial e eleva custos operacionais 2. Dados recentes do Tribunal de Contas da União evidenciam eficiência hospitalar de apenas 32% a 50% entre 2019 e 2024, indicando desperdício significativo de recursos humanos e estruturais 3.

Esta realidade evidencia a necessidade de estratégias educativas que fortaleçam a literacia em saúde da população, capacitando-a para decisões mais assertivas sobre quando e onde buscar atendimento. A gamificação surge como uma abordagem promissora, deslocando o usuário para o centro do processo de aprendizagem de forma interativa e engajadora.

Desenvolvimento da Ferramenta Educativa

Concepção e Planejamento

O desenvolvimento do baralho educativo partiu da observação sistemática das dúvidas mais frequentes apresentadas pelos usuários nas unidades de saúde. A equipe envolvida no projeto foi composta por dois internos de medicina: Alexandre Borges Filho (I1) e Renan Leão (I2).

A escolha pelo formato de baralho considerou fatores como portabilidade, durabilidade, facilidade de manuseio e familiaridade cultural com jogos de cartas. O número de 16 cartas foi definido como ideal para abordar de forma ágil algumas situações clínicas relevantes.

Estrutura e Composição das Cartas

O baralho foi estruturado em duas categorias principais:

Princípios de Design e Comunicação Visual

Cada carta foi desenvolvida seguindo princípios de comunicação visual universal, incorporando:

Esta abordagem multimodal garante a compreensão por usuários alfabetizados e por aqueles com limitações de letramento, promovendo verdadeira inclusão educativa.

Metodologia de Aplicação

Estrutura da Atividade Educativa

A implementação segue um protocolo padronizado mas flexível, com duração total de 30 minutos divididos em três fases:

  1. Aquecimento (5 minutos): Apresentação da equipe, das cartas e da dinâmica, criando um ambiente acolhedor para a atividade.

  2. Dinâmica Principal (20 minutos):

    • Exposição das cartas de níveis de saúde pelos facilitadores.
    • Apresentação uma a uma das cartas de situações clínicas em ordem aleatória.
    • Correlação entre cada carta-situação com o nível de atenção ideal para tratá-la.
    • Discussão mediada ativamente pelos facilitadores com esclarecimentos e contextualização local.
  3. Debriefing (5 minutos): Orientações finais e esclarecimento do objetivo do jogo educativo (reduzir a lotação de serviços e o tempo de espera), além de momento para sanar dúvidas.

Gabarito do Baralho

Cartas do baralho educativo mostrando diferentes situações clínicas e níveis de atenção Cartas do baralho educativo mostrando diferentes situações clínicas e níveis de atenção
Cartas do baralho educativo mostrando diferentes situações clínicas e níveis de atenção

Papel do Facilitador

O facilitador assume posição central no sucesso da atividade, atuando como mediador da construção coletiva do conhecimento. Diferentemente de abordagens tradicionais, a metodologia proposta valoriza:

Há circunstâncias em que o local ideal que o paciente deve buscar varia. Por exemplo, se o paciente reside perto de uma UPA e tem condições de ser levado até ela com agilidade, esse nível pode fazer o encaminhamento para o hospital com maior eficiência do que esperar a ambulância. Também é possível que a UAPS tenha infraestrutura para receber situações idealmente resolvidas em UPA. Essas condições variam conforme a região e residência do paciente, mas o que está sendo ensinado com a dinâmica é o fluxo ideal para algumas situações clínicas.

Protocolo de Replicação

Disponibilização do Material

📥 Clique aqui para baixar o material completo no GitHub

O material está disponibilizado sob a licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Compartilha Igual 4.0 Internacional (CC BY-NC-SA 4.0). Em suma, esta licença permite ampla disseminação e adaptação do baralho para propósitos educacionais e informativos, desde que os autores sejam devidamente reconhecidos, não haja exploração comercial e as obras resultantes mantenham as mesmas condições de licenciamento.

Materiais e Recursos Necessários

Perspectivas Futuras

Expansão e Adaptações

O modelo básico permite diversas adaptações:

Considerações Finais

O desenvolvimento e implementação deste baralho educativo representam uma contribuição concreta para o fortalecimento da literacia em saúde no contexto do SUS. A ferramenta demonstra que é possível criar soluções simples, de baixo custo e alta efetividade para problemas complexos do sistema de saúde.

A disseminação desta e de outras tecnologias educativas similares pode contribuir significativamente para a otimização dos fluxos no SUS, beneficiando tanto usuários quanto profissionais e gestores do sistema. O caminho para um sistema de saúde mais eficiente passa necessariamente pelo empoderamento e educação de seus usuários.


Este artigo baseou-se em experiência prática desenvolvida em unidades de atenção primária à saúde. Para mais informações sobre implementação ou adaptações da ferramenta, entre em contato com os autores.


Referências

  1. FRASÃO, G.; RIBEIRO, K. Atenção Primária e Atenção Especializada: Conheça os níveis de assistência do maior sistema público de saúde do mundo. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/marco/atencao-primaria-e-atencao-especializada-conheca-os-niveis-de-assistencia-do-maior-sistema-publico-de-saude-do-mundo. Acesso em: 16 jun. 2025.
  2. SOUZA, L. C. de; AMBROSANO, G. M. B.; MORAES, K. L.; FONSECA, E. P. da; MIALHE, F. L. Fatores associados ao uso não urgente de unidades de pronto atendimento: uma abordagem multinível. Cadernos Saúde Coletiva, v. 28, p. 56–65, 9 abr. 2020.
  3. SAMPAIO, F. TCU: eficiência hospitalar do SUS se manteve estável entre 2019 e 2024. Radioagência Nacional. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/saude/audio/2025-04/tcu-eficiencia-hospitalar-do-sus-se-manteve-estavel-entre-2019-e-2024. Acesso em: 16 jun. 2025.

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